Por Irineu Bueno Barbosa Junior — CEO da Cirklo
As mudanças climáticas estão entre os maiores desafios globais para a segurança alimentar da humanidade. Eventos extremos como secas prolongadas, enchentes e tempestades têm comprometido safras, dificultado o cultivo e elevando os custos de produção. Regiões mais vulneráveis são particularmente afetadas por alterações no regime de chuvas e no aumento das temperaturas, o que agrava ainda mais o acesso a alimentos.
Nesse cenário, garantir que os alimentos sejam produzidos, conservados e distribuídos com segurança e eficiência torna-se ainda mais crucial. É nesse contexto que as embalagens plásticas ganham protagonismo: elas possibilitam que produtos alimentícios sejam transportados por longas distâncias, preservando sua integridade, qualidade e segurança até o consumidor final.
Ao proteger os alimentos contra danos físicos, contaminações e deterioração, as embalagens plásticas contribuem significativamente para a sua conservação, prolongam a vida útil de produtos perecíveis e reduzem perdas durante o transporte, viabilizando o abastecimento em regiões distantes. Frutas, legumes, carnes e laticínios chegam ao consumidor em melhores condições, com menor risco de desperdício.
Esse papel é ainda mais relevante em locais com infraestrutura limitada ou com acesso restrito a alimentos frescos. Nesses casos, as embalagens viabilizam o fornecimento de alimentos nutritivos por mais tempo, promovendo segurança e inclusão alimentar em regiões mais distantes ou com limitada infraestrutura, especialmente logística.
Circularidade é o caminho: do reciclável ao reciclado com escala e regulação
Os benefícios, no entanto, trazem também desafios. O impacto ambiental das embalagens plásticas, em especial o descarte inadequado e o acúmulo de resíduos, exige uma resposta urgente. Uma das estratégias mais promissoras é a transição para embalagens 100% recicláveis, capazes de ser reaproveitadas no próprio sistema produtivo. Isso impulsiona a economia circular, reduz o uso de matéria-prima virgem e diminui o volume de resíduos. Mas, não pode parar por aí!
Mais do que recicláveis, as embalagens precisam conter material reciclado em sua composição. Esse passo é essencial para consolidar o mercado da reciclagem e estimular o avanço tecnológico na indústria, com processos capazes de incorporar resíduos a novos produtos.
Para que sistemas de logística reversa e reciclagem funcionem de forma eficiente e escalável, é necessário garantir uma demanda firme e contínua por matérias-primas recicladas. Sem essa demanda, todo o ciclo perde tração e torna-se economicamente inviável.
Embora a indústria esteja cada vez mais atenta à sustentabilidade, as suas decisões ainda são guiadas por custos e interesses de curto prazo. Por isso, a atuação do poder público é indispensável. Cabe ao governo criar marcos regulatórios ambiciosos, como a exigência de um percentual mínimo obrigatório de conteúdo reciclado em novas embalagens. Essa medida, além de tornar o uso do reciclado uma obrigação estrutural — e não mais uma opção, criará previsibilidade de demanda, que por si só, incentivará mais investimentos em estrutura industrial e inovação na área de reciclagem de embalagens.
Essa regulação fortalece a cadeia da reciclagem e transforma o uso de material reaproveitado em um elemento estratégico do ciclo produtivo. O avanço da sustentabilidade no setor depende da ação conjunta de governos, empresas e consumidores.
É fundamental conscientizar a sociedade sobre a importância das embalagens recicláveis e do uso de materiais reaproveitados para a construção de um futuro mais sustentável. Também é necessário fortalecer a infraestrutura de coleta e reciclagem e investir em educação ambiental para promover o descarte correto.
Ao adotar práticas responsáveis e sustentáveis no setor de embalagens, pavimentamos o caminho para um sistema alimentar mais resiliente e ambientalmente equilibrado. Preservar os recursos naturais e garantir o acesso seguro aos alimentos são objetivos indissociáveis na construção de um modelo de consumo mais consciente — um compromisso vital para as próximas gerações.
Vale lembrar que alguns materiais, como vidro, alumínio, papel, papelão e PET, já contam com versões recicladas seguras e autorizadas para contato direto com alimentos. Eles devem servir de referência para a circularidade no setor. Por isso, é urgente que os governos instituam a obrigatoriedade do uso de matéria-prima reciclada em todas as embalagens produzidas com esses materiais.
Para aqueles que ainda não possuem versões recicladas adequadas para contato com alimentos, é necessária uma política específica que acelere o desenvolvimento de soluções. Uma alternativa eficaz seria a criação de uma taxa de contribuição obrigatória, a ser paga pelo uso de embalagens não recicláveis ou que não cumprem com a resolução de conteúdo mínimo de matéria prima reciclada, destinadas à formação de fundos para pesquisa, inovação e estruturação da circularidade.
Com esse compromisso conjunto, será possível construir um sistema mais justo, eficiente e ambientalmente responsável para todos os tipos de embalagem.